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No verão de 2020 nós, Paula e Ramon, tivemos mais uma temporada na Patagônia, nosso lugar preferido do planeta. Foram 3 meses percorrendo desde El Calafate, na Argentina, até a Villa Cerro Castillo, no Chile.
No 42º dia de nossa viagem estávamos na Villa O’Higgins e depois de passarmos 11 dias neste agradável vilarejo, fomos embora a pé para Cochrane pela Ruta de Los Pioneros.
A Ruta de Los Pioneros é o caminho que os primeiros moradores da região percorriam para transitar entre Cochrane e Villa O’Higgins. Essa trilha faz parte do Great Patagonia Trail, e foi pelo site WikiExplora que Ramon a conheceu.
Villa O’Higgins e Cochrane são duas paradas da emblemática Carretera Austral, na Patagônia Chilena. A Villa O’Higgins é um pequeno e aconchegante vilarejo com uma surpreendente beleza natural. Cochrane é uma cidade um pouquinho maior, localizada ao lado do novíssimo Parque Nacional Patagonia.
Você também pode ver esta trilha no YouTube.
Menu do post
- Resumo
- Melhor época
- Como chegamos
- Roteiro e dia-a-dia
- Observações
- Custos
- Dados sabáticos
- Valeu?
- Quer mais?
Resumo da caminhada
- País: Chile
- Província: Aysén
- Cidades: Villa O’Higgins, Cochrane
- Início: Villa O’Higgins
- Fim: Cochrane
- Distância da caminhada: 143 km
- Duração: 8 – 9 dias
- Período: meados de fevereiro de 2020
- Previsão do tempo: Windguru
- Tracklog: Wikiloc
- Mapa 3D: YouTube
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Melhor época
Na minha opinião, a melhor época para caminhar pelas trilhas da Patagônia é entre janeiro a abril, quando não há neve e as temperaturas estão mais agradáveis. Em dezembro ainda há uma probabilidade de alguma trilha estar fechada, devido ao excesso de neve que sobrou da última nevasca. Em maio a temperatura cai bastante e a neve ressurge no cenário.
Vale observar que:
- Toda a região próxima do campo de gelo Sul da Patagônia, que é o caso da Villa O’Higgins, tem um clima imprevisível, caracterizado principalmente pelas fortíssimas rajadas de ventos no verão.
- Janeiro é quando tudo fica lotadíssimo. Se não gostar da multidão, tente evitar a região próximo a esse período.
Para você ter uma ideia, abaixo segue um histórico do clima durante o ano na Villa O’Higgins (fonte MSN).
Mês | Temperatura (ºC) | Precipitação máx. (mm) | Neve (dias) |
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro |
7 a 14 7 a 14 7 a 13 5 a 11 4 a 8 2 a 6 1 a 6 2 a 6 3 a 7 4 a 9 6 a 12 7 a 13 |
143 125 146 156 155 141 127 140 123 127 144 161 |
0 0 0 1 2 4 4 4 4 2 0 0 |
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Como chegamos
Começamos nossa viagem pelo aeroporto de El Calafate, na Argentina. Depois de 7 dias por lá, partimos de ônibus para El Chaltén.
Ficamos 19 dias caminhando em El Chaltén, e então seguimos para a Villa O’Higgins pelo Cruce Internacional Glaciares.
Curtimos as trilhas e o sossego da Villa O’Higgins por 11 dias, quando decidimos ir embora caminhando até Cochrane pela Ruta de Los Pioneros.
A Ruta de Los Pioneros começa obviamente na própria Villa O’Higgins, mas é possível ir de carro ou ônibus até o lago Christie, e pular cerca de 50 km de estrada de rípio. Nós começamos nossa travessia a pé por uma trilha atrás do vilarejo, e depois conseguimos uma carona até o lago Christie.
O ônibus que sai da Villa O’Higgins e vai até próximo ao Lago Christie, transitava somente aos domingos.
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Roteiro
Fizemos a caminhada em 8 noites e 9 dias, como segue:
- Villa O’Higgins → Lago Christie
- Lago Christie → Puesto Entrelagos
- Puesto Entrelagos → Lago Alegre
- Lago Alegre → Puesto Las Tablas
- Puesto Las Tablas → Puesto La Pampa
- Puesto La Pampa
- Puesto La Pampa → Paso La Picota
- Paso La Picota → Glaciar Calluqueo
- Glaciar Calluqueo → Cochrane
Dia 1: Villa O’Higgins → Puesto Lago Christie
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
15 km + 12 km 8h30min 440 metros 380 metros 630 metros |
Depois de 11 dias na Villa O’Higgins estávamos começando uma amizade com o pessoal do camping/Hostal El Mosco. Ganhamos até uma torta para nosso café da manhã de despedida. Conversando com o tcheco que trabalha no hostal, ele nos explicou que há uma trilha de 15 km saindo atrás do camping que acaba na estrada X 905, que é a estrada que vai até o lago Christie, onde começa a outra trilha que vai até Cochrane.
O começo desta trilha que sai da Villa O’Higgins é fácil de encontrar. Na trilha seguimos pelo bosque até encontrarmos um ponto de tratamento de água, onde aparentemente a trilha terminava. Então percebemos que erramos o caminho. Voltamos alguns metros e vimos uma bifurcação. Seguimos à direita, passamos por um riacho e atravessamos uma propriedade privada, onde encontramos três cachorros. Dois deles pulavam sem parar em nós, implorando por carinho. Demos um cafuné neles e seguimos até encontrarmos a estrada X 905.

Uma vez na estrada, ficamos ansiosos para que um carro passasse para nos dar carona. Ainda faltavam uns 40 km para o lago Christie, onde começa a trilha da Ruta de Los Pioneros. Mas nada de carro. Era praticamente uma estrada fantasma.

Com sorte, acho que caminhamos menos de meia hora, quando ouvimos o barulho de um carro. Eram os Carabineros de Chile, que muito gentilmente nos deram uma carona até o Controle Fronteiriço Mayer. Estávamos próximos da fronteira com a Argentina.
O posto do Carabineros está em um local muito lindo, na margem do rio Mayer. Eles pegaram nossos passaportes e nos registraram. Combinamos que ao chegarmos em Cochrane avisaríamos os Carabineros de lá. Foram muito simpáticos e atenciosos. Para a perfeição, só faltou eles nos levarem para a cabeceira da trilha, distante 8 km de lá. Mas aí já era pedir demais…

Seguimos caminhando, e logo paramos em um refúgio para comermos um lanche.

E não é que na parede do refúgio vimos a assinatura de alguns brasileiros? Entre eles estava o Edson Maia, do Ciclotrekking, que passou por lá no dia 25 de dezembro, em pleno Natal.

Lanchamos e seguimos já cansados pela estrada de rípio X-911. No meio do caminho e ao lado da estrada, paramos para ver uma cachoeira do rio Pérez.

Foram quase 7 km após nosso lanche para alcançarmos o início da trilha. A trilha é uma saída paralela à estrada, quase imperceptível, sem nenhuma sinalização.

O caminho segue margeando o lago Christie por cima. De vez em quando aparecia uma brecha no bosque e víamos o lago.

Foram cerca de 4 km de trilha, até chegarmos em um Puesto, um lugar que serve de abrigo para os gaúchos. Depois de conhecermos o refúgio na estrada, estávamos empolgados para conhecer o “refúgio” do lago Christie. Foi decepcionante. Eram várias tábuas de madeira formando uma tenda de índio com enormes frestas. Exaustos, acampamos por lá e dormimos ao barulho da chuva.

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Dia 2: Puesto Lago Christie – Puesto Entrelagos
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
14 km 5h30min 790 metros 800 metros 690 metros |
Como o dia anterior foi longo e cansativo, acordamos mais tarde, quase 8 horas da manhã. Bem tarde para quem está fazendo uma longa travessia. Mas estávamos precisando de um descanso, um merecido descanso.
Retomamos a caminhada, passando por uma praia do lago Christie, onde dois cavalos estavam pastando, complementando a paisagem.

Continuamos contornando o enorme lago Christie, com alguns momentos de paisagem e outros na floresta.

O caminho segue com muitos trechos de lama, que atrasaram um pouco a caminhada, mas conseguimos passar por todos sem sujar os calçados, pisando em pedras, moitas e galhos. Alguns lugares havia uma esteira de madeira para ajudar na caminhada sobre o solo alagado.
Somente em um momento tivemos que tirar os sapatos para cruzar um riacho. Do outro lado havia uma casinha de madeira. E então vi um cachorro todo saltitante, que correu para ganhar um carinho, que claro, retribuí. Ouço um assobio e vejo um gaúcho montando em um cavalo. Era um morador da região. Ele nos cumprimentou, conversou um pouco e seguiu sua viagem, estava indo até os Carabineros. Com sua fala super rápida, não consegui entender muita coisa do que ele falou, nem seu nome entendi. Mas resumindo, a casa dele estava logo ali e ontem ele viu um casal passando por lá. Através de relatos na internet, descobri que seu nome era Don Rubén Pradano.
Seguimos também nossa viagem, e logo passamos na casa dele. Neste ponto quase desviamos da Ruta. A casa dele é rodeada por uma cerca de madeira e havia uma trilha que seguia ao lado. Caminhamos um pouco nesta trilha, e logo percebemos que o caminho correto é entrando na propriedade de Don Ruben. Bom… pelo menos nós não encontramos outro caminho…

Continuamos em uma caminhada sempre igual, lama, floresta e paisagem.

Seguimos até chegarmos no Puesto Entrelagos. Desta vez o Puesto era uma casinha de madeira com teto, porta e lareira. Como o clima estava com ventos amenos, montamos nossa barraca no lado de fora mesmo. Ramon se animou e até tomou banho com a água geladíssima que coletei do córrego atrás do refúgio. Eu não estava tão empolgada assim…
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Dia 3: Puesto Entrelagos → ponta norte Lago Alegre
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
16 km 7 horas 930 metros 1000 metros 690 metros |
Depois de mais uma noite chuvosa, acordamos com um dia nublado e chuviscos. A caminhada foi muito parecida com o dia anterior, na floresta, pequenos sobe-e-desces, com alguns momentos de paisagem para o lago e muita lama. A diferença que o lago era outro, estávamos contornando o lago Alegre.

Mais uma vez a lama nos deixou lentos. Neste dia não consegui evitar de colocar um pé na lama. Pelo menos meu tênis impermeável ainda estava aceitável.
No meio do dia cruzamos um rio que desembocava no lago Alegre, portanto acredito que seja o rio Alegre. Eu cruzei o rio no modo tradicional, coloquei meu Crocs, arregacei as calças e encarei a água na altura dos joelhos. Uma razoável correnteza tentava me puxar e acabei cruzando o rio em diagonal. Estava tão frio do lado de fora, que até achei a temperatura da água agradável. O Ramon optou em ir se arrastando de bunda, sentado em um tronco caído sobre o rio. Esse tronco formava quase uma ponte.
Depois do rio passamos por uma propriedade, que dizem ser a casa da Margarida. Eu só vi cercas. Não vi nenhuma casa.
Continuamos entre lama e floresta, até cruzarmos mais um riacho com água abaixo do joelho. Logo em seguida subimos um morro e tivemos vista para o lago Alegre e montanhas nevadas. Pena que estava muito nublado o céu.

Neste ponto da trilha, a lama diminuiu bastante e evoluímos melhor nossa caminhada. Ao mesmo tempo encontramos algumas árvores caídas, sinal que os cavalos têm mais trabalho para transitar neste trecho. Mas com certeza eles transitavam por lá, seus excrementos no chão não deixavam dúvidas.
Descemos o morro, continuamos pequenos sobe-e-desces na floresta, até chegarmos na ponta norte do lago Alegre. Cansados, procuramos um lugar plano para acampar no gramado e ali ficamos.
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Dia 4: ponta norte Lago Alegre → Puesto Las Tablas
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
13 km 4h30min 480 metros 390 metros 560 metros |
Depois de mais uma noite chuvosa e tranquila, nos despedimos do lago Alegre. A trilha continuava com pouca lama e conseguimos caminhar bem na floresta. Havia um tronco de árvore aqui e outro acolá.

Chegamos em um curral, onde aparentemente era a propriedade de um morador, que pelo que li no Wikiexplora faleceu em 2018. Neste curral há uma bifurcação, onde fomos para direita.
Começamos a caminhar dentro da floresta por um bom tempo até encontrarmos o rio Bravo, que estava bem nervoso e largo. Muita água rolava por ali.

Caminhamos acima do rio Bravo, com o rio à nossa esquerda. A trilha continuava com pouca lama, e era bem demarcada. Mas a vegetação estava invadindo a trilha com arbustos na altura da cintura. Até aí tudo bem. O problema é que estava tudo molhado, devido a chuva da noite anterior. Caminhamos um bom tempo neste trecho. Tempo suficiente para encharcar nossas calças e calçados. Estes últimos já não estavam muitoooo impermeáveis. Tive que parar para trocar meu legging pela minha calça impermeável. Fazia muito frio e não queria ficar com o corpo molhado.
Fomos seguindo o rio Bravo, e descemos para seu leito, quando decidimos fazer um lanche em uma pequena praia. Lá vimos pegadas de Huemul, um tipo de cervo em extinção. Em certo ponto, vimos uma das curvas do rio com montanhas nevadas ao fundo. Foi a segunda e a última paisagem do dia.

Subimos novamente para caminhar acima do rio, e foi só o Ramon elogiar a trilha que a desagradável lama voltou, nos obrigando a olhar para o chão. Muito chato caminhar de cabeça baixa, com os pés molhados e sujos de lama.
Seguimos até encontrarmos o Puesto Las Tablas. Um cercado de madeira, com uma casinha e um galpão de madeira. Acampamos atrás do galpão e pegamos água de um pequeno córrego próximo. Aproveitei que era cedo, tomei coragem e tomei um refrescante banho de garrafa.
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Dia 5: Puesto Las Tablas → Puesto La Pampa
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
15 km 6 horas 980 metros 710 metros 920 metros |
Foi uma delícia acordar no frio e calçar o tênis molhado. Super delícia!
Era muito terreno encharcado acumulado nos dias anteriores sem a presença do Sol. Acordamos mais otimistas pois não choveu durante a noite e o tempo estava seco.
Saímos do Puesto Las Tablas e começamos a subir na floresta.

Perdemos a vista do rio Bravo, mas de vez em quando, vimos bonitas paisagens do vale e montanhas nevadas.

Os primeiros passos do dia foram com pouca lama, mas infelizmente foi por pouco tempo. Ela retornou com toda a força. O Ramon enfiou os dois pés na lama, não uma, mas duas vezes. A mim só restou rir. Quando perdíamos o rastro da trilha, procurávamos a lama. A lama virou nosso guia na Ruta de Los Pioneros. Onde havia lama, havia trilha.
As árvores caídas continuavam presentes, mas sempre havia um desvio para os cavalos. Também cruzamos vários córregos de água neste dia.
O clima melhorou. Não choveu, teve alguns raros momentos de Sol e a temperatura estava um pouco mais quente.
Paramos no Puesto El Burro para lanchar ao lado de um riacho. Aproveitei a água para lavar minha meia enlameada que usei no dia anterior. No Puesto havia uma cabana de madeira parcialmente inteira. Algum forte vento patagônio levou metade da cabana para baixo.
Continuamos entediados, caminhando na floresta, entre subidas e descidas, mais subidas que descidas. Até que alcançamos o alto de um morro, quando fomos surpreendidos por uma belíssima paisagem. Ao nosso lado esquerdo, vimos um glaciar com sua cor azul e branco, água escorrendo pelas montanhas e fundo branquíssimo da neve.

Na frente outra montanha com um paredão enorme, nevada e alguns picos quase dramáticos. Abaixo as curvas do rio Bravo corria em um belo vale. Depois de 4 ½ dias de caminhada, enfim a diversão havia chegado!

Descemos o morro e fomos até o Puesto La Pampa, onde acampamos a aproximadamente 200 metros do rio Bravo. Coletamos água de um fiapo de água que saía de uma nascente na frente de um curral.
Aliás, neste Puesto não havia cabana, somente um abrigo de madeira contra o vento. Aproveitamos o Sol para carregar nossas baterias com nossas placas solares, tomamos banho, lavamos roupa e até lavei meu cabelo. Que alívio foi lavar a cabeleira.

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Dia 6: Puesto La Pampa
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
3 km 1 hora 170 metros 170 metros 890 metros |
Antes de iniciarmos a Ruta de Los Pioneros, vimos na previsão do tempo que o clima iria melhorar somente no dia seguinte. Então optamos em dormir mais uma noite no Puesto La Pampa, e deixamos o trecho mais bonito da travessia para o próximo dia.
No final das contas, até que o clima não estava tão ruim. Até tentamos explorar os arredores, em direção ao Lago Mogote, que estava bem perto do Puesto La Pampa. Mas diante de uma caminhada dentro do mato e sem trilha, logo desistimos.
Só nos restou relaxar e descansar. O que fizemos com grande prazer.
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Dia 7: Puesto La Pampa → Paso La Picota
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
19 km 6h30min 840 metros 820 metros 1310 metros |
O dia começou bem nublado. Esperançosos que o clima melhoraria, saímos em direção ao norte, margeando o rio Bravo.

Em um certo momento a trilha oficial cruza o rio, e segue cruzando o rio para lá e para cá algumas vezes. Vimos no Wikiexplora, que muitos não seguem a trilha oficial neste ponto, para evitar esse vai e vem nas águas geladas do rio Bravo. A sugestão do Wikiexplora é continuar no mesmo lado do rio e cruzá-lo somente uma vez lá na frente. Foi o que fizemos.

Para cruzar o rio somente uma vez, tivemos que caminhar um tempinho dentro de um bosque bem fechado. Praticamente não há trilha, pois os cavalos não passam por lá. Foi um vara mato até chegamos no início do rio Bravo, onde há uma pequena laguna. Essa curta caminhada no bosque foi chatíssima.
Cruzamos o rio Bravo, que naquele ponto estava bem calmo. A água estava gelada e nos molhou somente um pouco acima de nossas canelas. Foi um cruzamento de rio bem fácil e tranquilo. Aproveitamos a parada para secar nossos pés, e fizemos um lanche.

O clima começava a melhorar. Não ventava e depois até o Sol apareceu. Então começamos uma caminhada em terreno pedregoso, exposto e com belas paisagens.

Montanhas nevadas, glaciar, cachoeiras, poças d’água, mini lagoas… Foi o trecho que valeu a pena toda a travessia. Muito lindo e agradável.

No meio do caminho cruzamos a fronteira entre Chile e Argentina e entramos no belíssimo Parque Nacional Perito Moreno. Caminhamos muito pouco neste parque, mas foi o suficiente para nos encantar.

Assim fomos até o ponto mais alto da Ruta de Los Pioneros, o Portezuelo 1300. Foi uma caminhada prazerosa e com pouca inclinação. Vale observar que depois do rio Bravo não encontramos a temida lama.

No Portezuelo fomos presenteados com surpreendentes paisagens em ambos os lados. Estávamos novamente na fronteira entre Chile e Argentina.

Descemos a montanha e voltamos a caminhar em território chileno.

Entramos no bosque, passamos por uma lagoa e área de acampamento. Confesso que eu queria ficar por lá. Já estava bem cansada. Mas o Ramon insistiu para a gente dar uma olhada no tal Paso La Picota, que estava logo ali.

E assim fomos. Depois da área de acampamento e laguna, nos deparamos com um rio escorrendo de um cânion, formando uma pequena cachoeira proveniente de derretimento de glaciar.

Descemos até o rio. Um pouco temerosos, cruzamos ele com água na altura do joelho. A correnteza estava extremamente suave. A correnteza do Rio Alegre estava bem mais forte. Foi moleza. Mas isso varia muito com o clima e época do ano. Lemos no WikiExplora que às vezes a correnteza está tão forte que cavalos são levados rio abaixo. Tivemos sorte.

Encostado no rio subimos um pequeno morro bem inclinado, com várias pedrinhas escorregadias. Tive que subir com quatro apoios. Eram dois passos para cima e um passo escorregando para baixo. Ainda bem que a subida era bem curta.

Menos de dez minutos, estávamos no topo do morro onde havia uma pá e um machado ajeitados em cima de uma pilha de pedras. Acabamos de passar o Paso La Picota.

Continuamos descendo agradavelmente no terreno pedregoso, até entrarmos no bosque e acampamos na primeira área de acampamento, que fica cerca de 2 km após o Paso La Picota, ao lado do rio.
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Dia 8: Paso La Picota → Glaciar Calluqueo
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
19 km 6 horas 410 metros 800 metros 890 metros |
Depois de uma noite bem fria, acordamos e continuamos a descer a montanha, na floresta e com o rio à nossa esquerda. Estávamos otimistas, achando que não haveria lama e a trilha estaria bem demarcada. Ledo engano. Passamos por vários trechos de lama e alguns momentos a trilha sumia de nossas vistas, principalmente quando havia árvores caídas.
Aproximadamente 2 km após nosso acampamento, passamos por uma laguna, onde tivemos uma bela visão da montanha nevada espelhada na água e uma família de cisnes brancos com cabeça preta nadando.

Caminhamos mais um pouco e tivemos a grata surpresa de vermos uma cadeia de montanhas, que entendemos ser o Monte San Lorenzo (não tenho certeza), onde está o segundo pico mais alto da Patagônia. Por vários momentos vimos essa montanha nevada com vários picos apontados para o céu. Muito bonito.

Passamos pelo Puesto Calluqueo, onde encontramos um gaúcho com dois cavalos e um cachorro. Ele foi a segunda pessoa que vimos na travessia. Ele nos cumprimentou e seguiu seu caminho. Acho que ele estava indo para seu lar doce lar.
Não caminhamos tão rápidos como achamos que seria. A lama nos atrasou. Além disso cruzamos o rio Pedregoso por três vezes com água pelas canelas. Esse negócio de tirar e colocar os tênis para cruzar os rios, só potencializou a lentidão. Pelo menos o dia estava completamente ensolarado e quente. Não havia vestígios de nuvens.

Outro fator que incomodou muito e gerou certa lentidão, foi a vegetação espinhosa. Pequenos espetinhos grudavam na minha calça legging conforme eu esbarrava nessa vegetação. E com a caminhada, os espinhos caíam para dentro do meu tênis, me obrigando a parar para retirá-los. Eu já estava bem de saco cheio…
No final da trilha passamos por um vestígio do que um dia já foi uma estrada, ou um projeto abandonado de uma estrada, hoje tomado pela natureza. Tivemos mais uma bela visão das montanhas nevadas e glaciares.

Até que chegamos no início do estrada de rípio. Ufa! Não aguentava mais caminhar entre lama, rios e espinhos. Uma placa de Fin del Camino indicava o final do rípio para muitos, mas o início para nós.

Ao lado da estrada de rípio, o poderoso glaciar Calluqueo dava seu ar da graça. Nos lembrou o glaciar Torre, em El Chaltén na Argentina, com aquele gelo escorrendo para um lago azul leitoso. Muito bonito.

Fomos até o mirante do glaciar e encontramos algumas pessoas. Sinal que conseguiríamos carona. Tiramos fotos e continuamos caminhando.

Assim que passasse um carro, acenaríamos pedindo carona. Maaassss… Vimos uma trilha saindo da estrada e que nos levaria ao lado da lagoa e do rio provenientes do Glaciar.

Olhamos um para a cara do outro. Olhamos para o céu sem nuvens, nenhum vento atrapalhando, calor, aquela água, um lugar para acampar, comida sobrando… Já era… Desistimos da carona e passamos a noite por lá. Foi um privilégio.

O curioso foi encontrar vários pequenos barcos atracados em um pequeno porto no lago. Com certeza rola um turismo lacustre naquela água.
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Dia 9: Glaciar Calluqueo → Cochrane
Distância Tempo sem paradas Subida acumulada Descida acumulada Altitude máxima |
20 km 4h30min 430 metros 510 metros 460 metros |
Saímos por volta das 9h30min do glaciar e começamos a caminhar pela ruta X901.

Para nossa infelicidade o Sol estava atrás do glaciar e provavelmente por isso, não havia absolutamente ninguém indo apreciar a geleira naquele horário. Sem dúvidas, ver o glaciar à tarde é infinitamente melhor. Para não dizer que não vimos ninguém, três vans de turismo passaram por nós. Provavelmente iriam usar aqueles barcos que vimos no lago e não voltariam para Cochrane tão cedo.

Caminhamos cerca de 15 km, quando chegamos no cruzamento da X901 com a X903. Neste lugar há um belo lago com cisnes brancos com cabeças pretas. Isso deixou nossa caminhada mais agradável. Aliás, essa estrada é recheada de paisagens.

A estrada X903 passa pelo Fundo San Lorenzo e termina no lago Brown. Neste ponto passa um ônibus duas vezes por semana, às segundas e quintas-feiras. Pena que era sexta-feira. Paramos para lanchar, vimos um gaúcho passar a cavalo e um carro branco indo para o glaciar. Aquele veículo não era de agência e poderia ser nossa salvação, quando ele voltasse para Cochrane.
Continuamos caminhando, passando pela ponte do rio Pedregoso e por volta das 15 horas paramos em uma sombra. Estava muito Sol e decidimos que recomeçaríamos a caminhar no final da tarde. Cerca de 30 minutos depois, aquele carro branco apareceu. Ele estava retornando para Cochrane. Eram três chilenas que pararam para nos dar uma carona. Estávamos salvos! Após mais uns 30 km de estrada, enfim chegamos em Cochrane!
E uma vez em Cochrane, a próxima caminhada seria no novíssimo Parque Nacional Patagonia.
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Observações
- Veja a previsão do tempo antes de iniciar a travessia. Tente se programar para estar no Portezuelo 1300, o ponto mais alto da Ruta de Los Pioneros, com bom tempo. Caminhar 8 dias e não ver a paisagem no topo da trilha é um pecado. Inseri a localização do Portezuelo no Windguru.
- A melhor parte está na segunda metade da trilha, para quem vai no sentido Villa O’Higgins a Cochrane. Se não quiser realizar toda a caminhada, pense em ir somente até Portezuelo 1300, saindo de Cochrane e voltar pelo mesmo caminho.
- Encontramos muita umidade, terreno alagado e lama. Um calçado impermeável ajuda bastante para manter os pés secos. Se eu tivesse encontrado jornal antes da travessia, teria levado algumas folhas para deixar dentro do tênis durante a noite, para mantê-lo mais seco, ou menos molhado.
- Calça impermeável também foi bem útil quando caminhamos na mata fechada molhada.
- Há algumas travessias de riachos e rios. Se quiser manter seus pés secos, leve um calçado para esses cruzamentos. Eu usei uma falsificação de Crocs, e para mim funcionou.
- Há muita vegetação espinhosa na trilha, principalmente depois do Paso La Picota. Recomendável não usar calça legging, pois os espinhos grudam no tecido e arranham a pele. Eu que o diga.
- A Ruta de Los Pioneros pode ser percorrida nas duas direções. Terminar no Glaciar Calluqueo no final do dia, pode ser uma boa opção para conseguir carona.
- Não se esqueça da jaqueta impermeável e corta-vento. A região fica próxima ao Campo de Gelo Sul da Patagônia, e o clima desta região é conhecido como imprevisível.
- Caso queira se aventurar nesse destino, te desejo boa sorte, ou bons ventos como estão dizendo por aí ultimamente. Lembrando que cada um tem que se auto-avaliar para entender se tem condições físicas, psicológicas e técnicas para se enfiar na natureza. O que é fácil e divertido para alguns, pode ser um grande desafio e chato para outros.
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Custos
Seguem alguns custos em pesos chilenos (CLP) e equivalentes em reais (BRL), conforme o câmbio local e preço da época (fevereiro de 2020).
Gastos na Villa O’Higgins
- Pão, unidade: $CLP 200 ($BRL 1)
- Empanada, unidade: $CLP 1500 ($BRL 8)
- Café, na cafeteria Nortweste, unidade: $CLP 3000 ($BRL 16)
- Mercado para Hostal, comida para cozinhar no Hostal, média diária individual: $CLP 9320 ($BRL 51)
- Mercado para trilha, comida para trilha, média diária individual: $CLP 7000 ($BRL 38)
- Camping El Mosco, diária individual: $CLP 7130 ($BRL 40)
Gastos em Cochrane
- Hospedagem Sur Austral, quarto e banheiro privado, diária casal: $CLP 30000 ($BRL 164)
- Hostal Cochrane, quarto privado com banheiro compartilhado, diária casal: $CLP 16000 ($BRL 88)
- Camping San Lorenzo, camping, diária individual: $CLP 5000 ($BRL 27)
- Restaurante Tehue, refeição Lomo Cerdo a Lo Pobre e refrigerante, individual: $CLP 14000 ($BRL 77)
- Mercado para trilha, comida para trilha, média diária individual: $CLP 4080 ($BRL 22)
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Dados sabáticos até aqui
6060 km trilhados 143 cidades 8 países 2 ano e 8 meses |
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