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Tenho certeza que você já ouviu falar do Caminho de Santiago de Compostela, não é mesmo?
Em 2019 decidimos conhecer este caminho tão popular entre os brasileiros. É um roteiro diferente do que costumamos fazer. Quase sempre viajamos com o intuito de permanecer na natureza selvagem, acampando em trilhas. O caminho de Santiago seria outro tipo de viagem com outro objetivo: conhecer um pouco da cultura europeia. E nada melhor para nós, do que conhecer o velho continente caminhando por uma rota medieval.

Este post está organizado na seguinte ordem:
- O Caminho
- Nosso roteiro
- Planejamento
- Época do Ano
- Preparo Físico
- Hospedagem
- O que levar
- Comida
- Bicicleta
- Credencial e Compostela
- Transporte de Mochilas e Correios
- Seguro Viagem
- Dinheiro e custos
- Considerações Finais
O CAMINHO
Esta rota foi criada na Idade Média, quando descobriram o sepulcro do apóstolo Santiago. Desde então, a cidade de Santiago de Compostela, para onde supostamente foram seus restos, tornou-se uma cidade de peregrinação e uma das capitais do catolicismo. Mas ficou esquecido por séculos, até que na década de 1980 começou a ficar cada vez mais popular, quando o papa João Paulo II visitou Santiago.

Paulo Coelho, o mais famoso escritor brasileiro contribuiu um pouco para a popularidade do caminho, quando escreveu em 1987 o livro “O Diário de um Mago”, onde relata sua jornada de 3 meses pelo Caminho Francês até Santiago de Compostela. É isso mesmo! Ele demorou 3 meses o que o pessoal faz em 1 mês. Ele é dos meus! Vai tranquilo, sem pressa, só paz e amor 🕊 .
Hoje o caminho é declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu e Patrimônio da Humanidade. E está cada vez mais popular. Em 1985 chegaram 1.245 peregrinos em Santiago, em 2019 foram 347.578 peregrinos (fonte: Oficina del Peregrino).

AS ROTAS
São vários os caminhos que levam para Santiago. Pasmem, tem um caminho que começa no Brasil. Um pouco estranho, mas você pode caminhar 21 km em Florianópolis, entre as praias de Canasvieiras e Ingleses, e já carimbar sua credencial. E claro, depois vai ter que chegar na Europa, nem que seja a nado, para chegar em Santiago de Compostela.
Abaixo segue uma estatística das rotas mais percorridas em 2019 (fonte: Oficina del Peregrino).
- Caminho Francês: 55%
- Caminho Português: 21%
- Caminho Português da Costa: 6%
- Caminho do Norte: 5%
- Caminho Inglês: 5%
O caminho mais popular é o mesmo que o Paulo Coelho fez: o Caminho Francês. O Caminho Francês pode começar em Paris, caso tenha dinheiro, tempo e disposição. Mas normalmente as pessoas começam na cidade francesa Saint-Jean-Pied-de-Port, onde nós iniciamos o nosso caminho.

SINALIZAÇÃO
Todo o percurso é sinalizado por setas amarelas e por conchas. É bem tranquilo de visualizar. E caso tenha alguma dúvida, há um mapa no aplicativo Buen Camino. Falo deste aplicativo mais adiante.

Os lugares mais confusos são nas grandes cidades. Neste momento, o melhor modo para não se perder é perguntando para algum local. Eles sempre ajudam.
E porque as conchas? Dizem que na Idade Média, as conchas eram a evidência física que o peregrino chegou em Santiago de Compostela. Isso porque Santiago fica relativamente próximo do litoral. Bom, isso foi o que eu ouvi falar…
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NOSSO ROTEIRO
Caminhamos pelo caminho Francês, partindo de Saint-Jean-Pied-de-Port. Foram 774 km e 39 dias para chegarmos em Santiago de Compostela, com dois dias de descanso e 20 km de táxi. Isso resultou uma média de 20 km por dia de caminhada.
Ah! Depois explico este 20 km de táxi…
Veja também todo o Caminho Francês no mapa 3D, em nosso vídeo do YouTube:
COMO CHEGAMOS
Nossa entrada na Espanha foi o aeroporto internacional de Madrid. De lá fomos de trem até Pamplona e de Pamplona pegamos um ônibus até o nosso primeiro vilarejo, na França: Saint-Jean-Pied-de-Port. Esse ônibus também faz uma parada em Roncesvalles, na Espanha. Quem quiser pular o primeiro dia de caminhada pelos Pirineus, pode ficar neste vilarejo espanhol.
MELHORES MOMENTOS
Na minha subjetiva opinião, os melhores momentos do caminho foram:
- atravessar os Pirineus (província de Navarra)
- visitar a Catedral de Burgos (província de Burgos)
- caminhar pelas mesetas (província de Burgos, Palência e León)
- passar por uma nevasca (província de León)
- comer o polvo da Galícia (província La Coruña)
DIA-A-DIA
Dividi os relatos do dia-a-dia em sete posts, conforme as províncias espanholas que passamos.
1. Navarra
O começo de uma jornada sempre é excitante. Para ajudar tivemos gratas experiências em Navarra como caminhar pelos Pirineus, beber vinho de graça de uma fonte e chegar em nossa primeira grande cidade, a charmosa Pamplona.
Foram 152 km e 9 dias nesta província, detalhados no post de Navarra e em nosso vídeo no YouTube.

2. La Rioja
Sem grandes atrativos passamos rapidamente pela província La Rioja, e pela nossa segunda grande cidade: Logroño. Destaque para a agradável ponte em Nájera.
Foram 59 km e 3 dias nesta província, detalhados no post de La Rioja e em nosso vídeo no YouTube.

3. Burgos
Para mim o melhor de todo o caminho foi a Catedral de Burgos. Linda demais. Como o homem pode construir algo tão belo? Valeu a pena pagar o ingresso de $EUR 4,50 para conhecê-la por dentro, onde está toda a sua beleza.
No oposto da riqueza da catedral de Burgos, em Hontanas visitamos a igreja mais simpática de nosso caminho: a igreja Nuestra Señora de la Inmaculada. De portas abertas, recepcionando todos com biscoitos e chá, além de oferecer bíblias em diversas línguas. Simples, acolhedora e marcante.
Foram 104 km e 6 dias nesta província, detalhados no post de Burgos e em nosso vídeo no YouTube.

4. Palência
Caminhamos pelas infinitas e belas mesetas. No outono foi bem agradável, mas imagino o inferno que deve ser no calor do pleno verão sem sombras. As cores do outono no canal de Castilla deram um show à parte.
Foram 70 km e 3 dias nesta província, detalhados no post de Palência e em nosso vídeo no YouTube.

5. León
A província de León foi a mais longa que caminhamos. Mal parecia que já estávamos na metade do caminho quando chegamos em Sahagún.
Também tivemos um imprevisto: não encontramos hospedagem em Foncebadón, próximo ao ponto mais alto do caminho. Era outono e como a quantidade de peregrinos estava diminuindo, todos os albergues de Foncebadón (se não me engano eram três), estavam fechados. Tivemos que percorrer 20 km de táxi até Molinaseca, a hospedagem mais próxima. Foi o único trecho que não caminhamos, e nos pareceu ser bem bonito, cheio de paisagens, na montanha, passando pela Cruz de Ferro. Uma pena…
Foram 208 km e 11 dias nesta província, detalhados no post de León e em nosso vídeo no YouTube.

6. Lugo
Entramos na comunidade autónoma Galiza (ou Galícia) e enfrentamos uma rápida e intensa nevasca. Ver tudo ficar branquinho foi um dos momentos inesquecíveis do caminho. Passamos no vilarejo O Cebreiro, e veio uma sensação boa de estarmos na reta final. Faltavam “somente” 163 km para Santiago de Compostela.
Foram 96 km e 4 dias nesta província, detalhados no post de Lugo e em nosso vídeo no YouTube.

7. La Coruña
Na última etapa do Caminho de Santiago foi inesquecível saborear o polvo da Galícia, na cidade de Melide. Uma iguaria que não pode ser ignorada.
O fim em Santiago não foi tão legal assim. Estava chovendo MUITO, a catedral não era tão bela como a catedral de Burgos e ainda por cima estava em reforma.
Para nós, valeu muito mais a jornada que o destino final. Claro que, para quem faz o caminho com objetivos religiosos, a emoção de chegar em Santiago de Compostela deve ser fascinante.
Foram 67 km e 4 dias nesta província, detalhados no post de La Coruña e em nosso vídeo no YouTube.

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PLANEJAMENTO
Por onde começar a planejar? Um lugar muito bom é a loja de aplicativos do seu celular.
É imprescindível ter um aplicativo instalado, para programar quantos km caminhar por dia, qual cidade parar, qual albergue dormir, e até mesmo, muito antes de tudo isso, qual caminho escolher, se é o Francês, o Português, Primitivo, etc…
Nós, e a maioria dos peregrinos, usamos o aplicativo “Caminho de Santiago (Buen Camino)“.
Infelizmente dei uma conferida no Play Store, e parece que a nova versão deste app em 2020 não está tão boa, há muitas reclamações. Mas de qualquer modo, vale o esforço para procurar a melhor app antes de começar a caminhar. Recomendo dar uma chance para o Buen Camino, pois ele tem muito conteúdo útil.
Há informações interessantes neste aplicativo, como a nota sobre as ruínas de monastério de San Félix, que abrigou o sepulcro de Diego de Porcelos, o fundador de Burgos. Não lembro de ter visto nenhuma placa física explicativa sobre esta ruína. Se não fosse o app passaria batido nesta atração.

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ÉPOCA DO ANO
Na Europa as estações do ano são:
- Primavera: 21 março até 20 junho
- Verão: 21 junho até 20 setembro
- Outono: 21 setembro até 20 dezembro
- Inverno: 21 dezembro até 20 março
As melhores épocas para o caminho são final da primavera e início do outono, quando não é muito frio, nem muito calor e não chove muito. No verão o calor é insuportável e no inverno há muita neve nas partes mais altas do caminho, como nos Pirineus, Foncebadón e O Cebreiro.
Julho e agosto são férias escolares na Espanha e muitos acabam percorrendo o caminho, lotando os albergues. Em 2018, 44% dos peregrinos eram espanhóis. Então o auge do verão, realmente não é uma boa opção.
Para você ter uma ideia do clima durante o ano, montei três tabelas com o histórico fornecido pelo site MSN, mostrando o começo, meio e fim do caminho Francês de Santiago de Compostela.
Mês | Temperatura (ºC) | Precipitação máx. (mm) |
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro |
3 a 11 3 a 12 6 a 15 8 a 17 12 a 21 15 a 25 17 a 27 17 a 28 14 a 24 12 a 20 7 a 14 4 a 11 |
65,10 58,00 68,20 87,00 83,70 84,00 62,00 62,00 75,00 77,50 93,00 65,10 |
Mês | Temperatura (ºC) | Precipitação máx. (mm) | Neve (dias) |
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro |
0 a 7 0 a 8 2 a 11 4 a 14 7 a 18 11 a 22 13 a 24 13 a 25 11 a 21 8 a 16 3 a 10 1 a 7 |
65,10 55,10 62,00 87,00 86,80 63,00 37,20 40,30 57,00 68,20 72,00 65,10 |
2 3 1 0 0 0 0 0 0 0 1 1 |
Mês | Temperatura (ºC) | Precipitação máx. (mm) |
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro |
6 a 12 6 a 13 8 a 15 8 a 17 11 a 19 13 a 22 15 a 24 15 a 25 14 a 23 12 a 19 9 a 15 7 a 13 |
186,00 127,60 136,40 123,00 102,30 54,00 37,20 49,60 81,00 192,20 186,00 179,80 |
NOSSO CAMINHO NO OUTONO
Nós fomos no outono. Começamos a caminhada dia 12 de outubro e terminamos dia 19 de novembro. O começo estava bem gostoso, dias ensolarados e agradáveis do outono.

O outono nos proporcionou admirar suas belas cores, mas ao mesmo tempo, não presenciamos as flores. Na primavera deve ser lindo ver os campos de girassóis floridos.

O clima foi mudando aos poucos. Escurecia cada dia mais cedo, começou a esfriar, e o pior de tudo, começou a chover. No dia 20 de outubro, quando saímos de Logroño na província de La Rioja, enfrentamos nossa primeira garoa e o Sol nascia somente após às 8 horas. Teve dias que enfrentar a chuva com frio não foi fácil. Minha roupa de chuva virou minha melhor amiga. Inseparável.
Para compensar, no último domingo de outubro, chegou o horário de inverno europeu. Os relógios são atrasados em 1 hora, e com isso o início do dia ficou mais claro.
Dia 31 de outubro foi o dia mais chuvoso, foram praticamente 5 horas caminhando sem trégua embaixo de chuva. No final do dia, minha jaqueta impermeável já não estava mais tão eficiente. Cheguei um pouco molhada e tremendo de frio no albergue.
Em novembro entramos oficialmente no final da temporada e havia menos peregrinos no caminho. O que foi bom, pois nós não gostamos de tumulto. Mas por outro lado, alguns albergues começaram a fechar e os mercados pequenos não abriam aos domingos.
Além disso observamos que várias igrejas estavam fechadas. Não sei afirmar se as igrejas estavam fechadas por ser baixa temporada ou se é assim mesmo (se você souber, comente no final do post, gostaria de saber). Mas eu imaginava que encontraria todas abertas no renomado Caminho de Santiago de Compostela. Confesso que foi um pouco decepcionante.
O clima continuou a esfriar. No dia 8 de novembro, quando estávamos na província de León, os termômetros marcavam 1º C logo cedo. Em 14 de novembro, em Lugo, passamos até por uma nevasca. Como foi breve, achamos a neve bem divertida, principalmente para nós brasileiros que não estamos acostumados com este evento da natureza.

Caminhar na chuva ao lado de vários outros peregrinos, todos indo na mesma direção, dá uma energia extra. E assim todos vamos seguindo. Até amigo da minha cidade natal encontrei.

Chegamos em Santiago de Compostela no dia 19 de novembro embaixo de muita chuva.
Se eu pudesse me programar novamente, tentaria fazer o caminho para que termine no máximo dia 01 de novembro em Santiago de Compostela, então começaríamos dia 23 de setembro em Saint-Jean-Pied-de-Port. Assim pegaria menos chuvas e o caminho ainda não estaria em sua lotação máxima. Ou tentaria no final da primavera, para ver um caminho mais florido, apesar de eu adorar as cores do outono.
ANO SANTO
Tome cuidado com o Ano Jubilar Compostelano. Todo ano quando o dia 25 de julho (dia do apóstolo Santiago) coincide em um domingo, é celebrado o Ano Santo, também conhecido como Jubileu ou Jacobeu. O próximo será em 2021 e depois em 2027, 2032 e 2038. Os mais religiosos preferem realizar a peregrinação neste ano, pois é concedida a Indulgência Plenária. O caminho fica lotadíssimo. Se você não tem intenções religiosas, não vá neste ano.
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PREPARO FÍSICO
Confesso que nós não somos as melhores pessoas para falar sobre preparo físico. Isso porque antes de começarmos o Caminho de Santiago caminhamos quase 2000 km pela Pacific Crest Trail, uma imensa trilha nos Estados Unidos. Então estávamos muito bem preparados.
Mas mesmo assim, tivemos dores nos pés. Não sei se foi o fato do caminho percorrer terrenos duros, como asfalto, e nossos pés estarem acostumados com trilhas. Ou se foi o acúmulo de atividade física anterior. Só sei que a sola e as articulações de nossos pés sofreram um pouco.

Para amenizar as dores, comprei uma palmilha na Decathlon em Pamplona, que ajudou a reduzir as dores no calcanhar.
Em Puenta La Reina tivemos um encontro com uma brasileira. O sonho dela era percorrer o Caminho. Muito empolgada, caminhou muito nos primeiros dias. Provavelmente a adrenalina estava a mil e ela nem percebeu o que estava fazendo com seu próprio corpo. Quando a vimos no albergue, ela mal podia caminhar com tantas dores que tinha nos joelhos. Cada passo era um sofrimento. Ela estava por lá umas duas noites e estava bem mal, mas ainda tinha esperança de retomar a caminhada. Os olhos dela chegavam a lacrimejar quando falava do assunto. Não sei se ela conseguiu, espero que sim, mas me pareceu improvável.

Então, por mais que a gente ache que está preparado, cautela nunca é demais. O negócio é ouvir seu corpo e aproveitar as várias oportunidades que o caminho oferece para descansar. E se no meio da jornada, você achar que está muito devagar e não terá tempo de chegar em Santiago de Compostela, avalie a possibilidade de fazer um trecho de ônibus ou táxi. Melhor “perder” um dia descansando ou pular uma etapa, do que perder as férias quebrado.
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HOSPEDAGEM
A hospedagem mais popular do caminho é o albergue. Acredito que faz parte do caminho. Não dormir em albergues é como perder um pouco do espírito desta caminhada.
Eu, particularmente, estava um pouco receosa em dormir em beliches e quartos compartilhados. Gosto da privacidade. E também não temos este hábito. Nossa opção de hospedagem mais barata sempre foi o camping. Mas posso dizer que os albergues nos surpreenderam.

Em sua grande maioria eram bem limpos e organizados. Como caminhamos o dia inteiro, vamos dormir cansados, o que ajuda à chegada do sono, mesmo com os roncos dos vizinhos, que sempre aparecem. Alguns vendem lençol descartável por 1 euro.
Como fomos no outono, é imprescindível levar um saco de dormir, pois a maioria, principalmente os mais baratos, não oferecem cobertores.
Praticamente todos os albergues estão listados no aplicativo Buen Camino, com as informações de preço e o que oferece.
Até o dia 09 de novembro, não reservamos nenhum albergue com antecedência. Até que chegamos em Foncebadón e encontramos três albergues fechados e o único hostel aberto estava lotado. Infelizmente tivemos que pegar um táxi até Molinaseca, a hospedagem mais próxima, perdendo assim 20 km da caminhada.

A partir deste dia, começamos a reservar a próxima hospedagem, no máximo uma noite antes. Mas na prática vimos que mesmo que não tivéssemos reservado não teríamos problemas, pois começamos a nos programar para dormirmos somente em cidades médias e grandes. O único problema foi realmente em Foncebadón, que era uma vila bem pequena.
Vale observar que não estávamos em alta temporada. Entre final da primavera, verão e início do outono, me informaram que a reserva de albergues é bem importante para uma caminhada tranquila.
Usamos também Airbnb e Booking algumas vezes, principalmente nas grandes cidades. É uma boa opção para descansar dos albergues.
Sobre camping, vimos poucas oportunidades para acampar. Conhecemos um brasileiro que estava levando uma barraca. Segundo ele, alguns albergues deixam você acampar. Não sei se é algo tranquilo na prática.
PERCEVEJOS
Se me perguntar o que não gostei do caminho, tenho duas observações: a chuva (que já mencionei) e os miseráveis percevejos. Eita bichinho chato! Chegavam à noite, quando estávamos dormindo e só percebíamos que recebemos sua visita no dia seguinte, quando já estávamos caminhando e começava uma coceira infernal na pele, que parava somente depois de alguns dias. Eu levei tantas picadas que decidi dormir até com luvas, para me proteger deste inseto nojento. Vale a pena comprar algum repelente para evitar esse incômodo.
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O QUE LEVAR NA MOCHILA
Não tenho a intenção de fazer um check list do que levar na mochila. Acho isso muito pessoal. Mas vou compartilhar algumas dicas que acho pertinentes.
Em primeiro lugar, quanto menor o peso, melhor! Roupa de secagem rápida é imprescindível. A gente lavava roupa todo o dia nos albergues, principalmente camisetas e meias. Na maioria das vezes as roupas secavam no dia seguinte. Uma vez ou outra tivemos que secar as roupas no caminho, deixando-as penduradas nas mochilas, ou quando tinha, usávamos secadora de roupa.
Se você já leu sobre o tema “Época do Ano”, já reparou que com exceção do verão, quase sempre chove no caminho. Então capriche na roupa impermeável. Nós levamos, tênis, jaqueta e calça impermeáveis e capa de chuva para mochila. Outra opção para se proteger da chuva, seria ter uma capa de chuva gigante que coubesse a mochila e nós, ao invés da jaqueta + capa de chuva para mochila. E não se esqueça das mãos. No outono fazia muito frio e tivemos que comprar uma luva impermeável no meio do caminho.

Eu levei comigo somente três camisetas e três meias, que revezava entre dormir, caminhar e lavar. Três calças, duas para caminhar e uma mais quente para dormir. Duas blusas segunda-peles, que foram o suficiente para me aquecer quando estava no albergue à noite. Não levei fleece ou outra jaqueta além da impermeável, mas eu também não ficava caminhando à noite no vilarejo. Fazia muito frio à noite, mas dentro do albergue não tive nenhum problema.
Não há toalhas nos albergues. Você tem que levar a sua. Nossas toalhas são de microfibra da Decathlon, leves e compactas.
Outro item que não pode faltar durante os períodos mais frios é um saco de dormir. Como não são todos os albergues que oferecem cobertores, um saco de dormir será importante. Não precisa ser um saco de dormir pesado, já que os abrigos são bem protegidos.
Como já falei por aqui, também super recomendo levar um repelente para evitar os minúsculos e infernais percevejos.
O tamanho da mochila ideal é o menor que couber suas coisas. Eu levei uma mochila de 50 litros, porque era a que eu tinha. Mas na prática sobrava um bom espaço em seu interior. Talvez uns 35 a 40 litros já fossem suficientes. E claro! A mochila tem que ter ajuste na barrigueira e no peitoral, caso contrário as suas costas não irão aguentar nem um dia de caminhada.
Sobre bastões de caminhada, é muito pessoal também. Eu, Paula, usei todos os dias até esquecê-los em um albergue. O Ramon, acabou me dando os seus bastões e ele se adaptou muito bem sem eles.
O bom é que se faltar ou sobrar algo, é possível ir ajustando durante o percurso. Se faltar alguma coisa, há lojas esportivas, inclusive Decathlon, no caminho. Se estiver com alguma coisa sobrando na mochila, é possível despachar pelo correio direto para Santiago de Compostela. Eu acabei enviando uma peça de roupa, que eu não estava usando, para o Correio de Santiago de Compostela, e peguei-a no final do caminho. Tudo bem tranquilo.
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COMIDA
Um momento inesquecível do caminho foi saborear o polvo da Galícia. Delícia! Super saboroso… Chego a salivar só de pensar…
Mas não se empolgue, não teve nada mais memorável na culinária espanhola que eu tenha apreciado. A comida brasileira, para mim, ganha de goleada.
No dia-a-dia todos os restaurantes ofereciam o Menu do Peregrino, que nada mais é que o menu do dia. Basicamente um prato, sobremesa e bebida. No começo do caminho experimentamos o menu do Peregrino, mas logo na primeira semana percebemos que não valia o custo x benefício. Então começamos a comprar comida no mercado e cozinhar nos albergues. Durante o dia levávamos um lanche e parávamos nos bares somente para tomar um café e ir ao banheiro.
Porém, quando o período de chuva começou a se intensificar, começamos a consumir algo além do café nos bares. Afinal de contas, não era mais possível fazer um lanchinho ao ar livre sem se molhar.
Também sempre pesquisávamos no aplicativo Maps.Me se haveria um mercado DIA no caminho. Se houvesse, aproveitávamos para comprar algo, pois era o melhor custo x benefício. Em alguns raros vilarejos não havia nenhum mercadinho para nos abastecer, então era bom ficarmos atentos para não faltar a comida para jantar e café-da-manhã.
Outra característica marcante foi o vinho. No tal menu do peregrino, havia praticamente duas opções “padrões” de bebida: água ou vinho. É muita tentação não pedir um vinho. O ruim é ter que continuar a caminhar depois… Dá uma moleza…
O vinho é tão popular que até fonte de vinho gratuita é oferecida os peregrinos. Pena que foi somente uma vez.

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BICICLETA
Em 2018, 6% dos peregrinos realizaram o caminho de bicicleta. Todos os dias víamos ciclistas. E os albergues estão aptos para recebê-las. Inclusive no app Buen Camino, sempre há algumas considerações sobre rotas alternativas para quem pedala.
Conhecemos um ciclista brasileiro em nosso primeiro dia e ele alugou a bike na Espanha só para fazer o caminho. É uma ótima opção para quem tem um curto período de férias e quer percorrer toda a rota.
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CREDENCIAL E COMPOSTELA
A credencial do peregrino é tipo um passaporte, onde vamos carimbando nossa passagem pelos albergues, cafés, restaurantes e, claro, igrejas. A credencial nos possibilita entrar em alguns albergues onde somente peregrinos são permitidos. Além de nos permitir algumas regalias, como entrar na Catedral de Pamplona sem pagar.

Outro ponto importante, é que com a credencial carimbada corretamente, você pode ter um certificado de conclusão do caminho, quando chegar em Santiago. Esse certificado é tipo um diploma, chamado de Compostela.

A Compostela é gratuita e bem bonitinha com seu nome escrito à mão em latim. Para isso basta carimbar duas vezes ao dia nos últimos 100 km, para quem vai a pé, e 200 km, para quem está de bicicleta. Segundo o site Oficina del Peregrino também é necessário fazer o caminho por motivos religiosos ou espirituais. Nós informamos que nosso motivo era turístico e conseguimos a Compostela mesmo assim.
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TRANSPORTE DE MOCHILAS E CORREIO
Nós carregamos nossas mochilas o tempo todo. Mas vale informar que há um sistema de transporte de mochilas muito eficiente. Muitos peregrinos usam esse sistema quando estão cansados, transportando uma mochila de um albergue para outro, sem complicações. Se não me engano esse serviço custava cerca de 7 euros. E vi esse serviço sendo oferecido em todos os albergues que ficamos.

Outro observação é o correio. Isso nós usamos. Nos primeiros dias achei que estava carregando uma blusa de frio a mais. Então enviei para o Correio de Santiago de Compostela para pegá-la no final do caminho. Foi tudo bem tranquilo e fácil.
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SEGURO VIAGEM
Devido ao tratado de Schengen é obrigatório adquirir um seguro viagem para 25 países da Europa, entre eles França e Espanha, com limite de cobertura a partir de 30.000 euros ou o equivalente em dólares para acidentes, enfermidades e repatriação. O certificado (apólice) desse seguro é o documento que o viajante brasileiro deve apresentar à imigração do país ao qual esteja ingressando, caso seja solicitado.
Na prática, absolutamente NADA nos foi questionado quando chegamos no aeroporto de Madrid, na Espanha. Nadica de nada. No final das contas não seria necessário termos adquirido o seguro. Mas melhor prevenir do que remediar. Vale observar que nosso aéreo saiu dos Estados Unidos, não sei se isso teve alguma interferência no pouco caso do oficial da fronteira.
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DINHEIRO E CUSTOS
Tenha em mente que serão raros os momentos que você irá encontrar uma casa de câmbio. Nem nas cidades maiores encontramos. Na verdade, encontramos somente em Madrid, quando chegamos na Europa. Nos bancos também não conseguimos trocar dinheiro, eles trocam somente de clientes.
Como nós viajamos bastante, aproveitamos para providenciar cartões de bancos virtuais europeus. A solicitação é feita por aplicativos e além disso foi necessário combinar antecipadamente com um Airbnb o envio da correspondência, pois informamos o endereço de um Airbnb para envio do cartão. Usamos o Bunq e o Monese. E para transferir o dinheiro para esses bancos, usamos o Transferwise.
Quando obtivemos nossos cartões, conseguimos sacar dinheiro em caixas eletrônicos e usá-los em quase todos os estabelecimentos. Muitos albergues só aceitam dinheiro físico.
Observação: Em 2020 o Remessa Online nos pareceu ser mais vantajoso que o Transferwise. Sempre é bom dar uma pesquisada pois tudo muda muito rápido.
CUSTOS
Segue abaixo a média de alguns custos em euros (EUR) e equivalentes em reais (BRL), conforme o câmbio que fizemos na época, final de 2019. Vale observar que nos posts de cada província estão em detalhes os gastos que tivemos durante o caminho. E no aplicativo Buen Camino, é possível conferir os preços atualizados dos albergues.
Antes do caminho
- Hospedagem em Madrid, Hotel Ibis, diária casal: $EUR 63 ($BRL 310)
- Almoço em restaurante, em Madrid, individual: $EUR 10 ($BRL 41)
- Trem de Madrid até Pamplona, individual: $EUR 63 ($BRL 309)
- Ônibus de Pamplona até Saint-Jean-Pied-de-Port, individual: $EUR 22 ($BRL 108)
Durante o caminho
- Albergues, média individual por noite: $EUR 9 ($BRL 44)
- Airbnb, nas cidades maiores, quarto privado, média diária casal: $EUR 26 ($BRL 150)
- Café da manhã em restaurantes, média individual: $EUR 3 ($BRL 14)
- Almoço em restaurantes, média individual com bebida: $EUR 12 ($BRL 59)
- Café com leite em restaurantes, média individual: $EUR 1,20 ($BRL 6)
- Mercado, comida para café da manhã e jantar, média individual: $EUR 7 ($BRL 35)
- Correio, envio de roupa em excesso (um casaco pesado de frio), de Estella (província de Navarra) até Santiago de Compostela: $EUR 14 ($BRL 64)
Cotação comercial oficial em 20/11/2019:
$EUR 1,00 = $BRL 4,65
Para ter uma ideia de média diária individual, vamos estipular o seguinte cenário:
(albergue) + (café da manhã e 1 refeição comprada no mercado) + (1 refeição em restaurante) + (1 cafezinho)
↓
$EUR 29,20 por dia
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além do Caminho Francês, também tentamos caminhar o Caminho Português da Costa. Mas como estava chovendo muito, fizemos o caminho português mais de ônibus e trem, do que a pé.
Em nosso post final desta jornada de nosso Instagram tem um resumo de nossa caminhada. Deixo aqui o post com nossas considerações finais:
Vale lembrar que cada um tem que se auto-avaliar para entender se tem condições físicas e psicológicas para se aventurar em uma longa caminhada como esta. O que é fácil para alguns, pode ser um grande desafio para outros.
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Encontrou algum erro de gramática neste post? Me avise comentando abaixo. Obrigada!
Olá Paula, boa noite!
Parabéns, sua narrativa foi muito boa, as informações que dividiu com a gente, também.
Farei o Caminho esse ano, partirei de Fortaleza no dia 02/10, a ideia é iniciar em San Jean de Pied de Port em 04/10, estou ansiosa!
Muito agradecida a você, seu blog foi muito útil.
Grata!
Sueli
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Obrigada vc por ler e comentar por aqui. Fico feliz em ter ajudado. Não esquece de levar uma blusinha… kkkkk… ❄️☃️
E que vc tenha um Buen Camino!
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Fantástico!!!! Dá vontade de sair agora e fazer O Caminho. Mas eu chego lá!. Abraços e obrigado por compartilhar tantas dicas e imagens incríveis! José Fonseca
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Obrigada José! Espero que vc percorra seu caminho em breve. 🤞
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Ola !! Adorei seu blog !! E to encantada com tanta informação!
Eu e meu marido estamos pensando em fazer o caminho que vcs fizeram.
Planejamos fazer em 2022 no Max.
Poderia trocar algumas informações comigo ?
Meu email
anaport_rs@hotmail.com
Meu watts
47 984079545
Bjs com admiração
Ana
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Muito obrigada Ana! Fico feliz com seu comentário. Ficarei feliz em te ajudar também. Para mim seria melhor tentar tirar suas dúvidas por aqui mesmo. Assim outras pessoas podem se beneficiar com as informações compartilhadas. Pode encher de pergunta que vou tentar respondê-las todinhas. 😉
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