O cabo Froward é o ponto mais austral do continente americano, onde os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram. Está localizado a 90 km da cidade Punta Arenas.
Para alcançá-lo é necessário caminhar 40 km, entre praias, turberas, pedras e bosques, ao lado do estreito de Magalhães. Chegando no Cabo, há uma cruz simbólica indicando o cruzamento dos mares.
Estávamos com um tempo livre em Punta Arenas e fizemos este trekking sem muitas expectativas. Os dois primeiros dias foram surpreendentes; mas no dia de ataque ao Cabo, o clima não ajudou.
Resumo da caminhada
- País: Chile
- Cidade próxima: Punta Arenas
- Início: ponto final do ônibus em San Juan
- Fim: ponto final do ônibus em San Juan
- Distância total: 82 km
- Duração: 6 dias
- Subida acumulada: 1930 metros
- Descida acumulada: 1970 metros
- Altitude máxima: 84 metros
- Mapa da trilha: Wikiloc
- Previsão do tempo: Windguru
- Período: início de março de 2018
- Dificuldade: Moderada Pesada. Os trechos com pedras grandes são muito escorregadios.
Como chegamos
Nosso destino anterior foi a Isla Navarino, uma ilha no extremo Sul do Chile, de onde voamos até a cidade Punta Arenas.
Em Punta Arenas nos hospedamos no Hostal Independência, com ótimo custo e benefício.
Para chegar no início da trilha, pegamos um ônibus no terminal, a alguns quilômetros do hostal, localizado na avenida Colon 1106. O destino do ônibus é San Juan, na ruta 9.
É importante se programar, pois não tem transporte todos os dias. A grade de horário do ônibus é:
- De Punta Arenas a San Juan
Segunda-feira, quarta-feira, sexta-feira: 7h30, 18h00
Sábado: 7h15, 18h00 - De San Juan a Punta Arenas
Segunda-feira, quarta-feira, sexta-feira: 9h15, 19h15
Sábado: 9h00
Roteiro
No total foram 5 noites acampando, relatados com detalhes abaixo.
Isla Navarino
dia 1: ponte Santa Maria
Pegamos o ônibus da quarta-feira às 18h00, chegando no ponto final às 19h15min. Como o pôr do Sol estava se aproximando, improvisamos um acampamento, logo que descemos do ônibus, a 14 km do Farol San Isidro e 45 Km do Cabo Froward. Nos sentimos quase mendigos, pois acampamentos embaixo de uma ponte, a ponte Santa Maria.
dia 2: ponte Santa Maria – farol San Isidro – rio Yumbel
Seguimos pela estrada de terra, onde o ônibus nos deixou, com o estreito de Magalhães à esquerda. Vimos vários lugares para acampamento selvagem ao lado da estrada.
Tivemos sorte e avistamos golfinhos no mar. A partir de então, era um olho no caminho e outro no mar.
Ainda na estrada conseguimos uma carona até o início da trilha para o Farol San Isidro, o farol mais austral do continente americano. Para chegar no farol são mais 4 km caminhando pela praia. Era março e encontramos somente duas mulheres voltando, além do casal que nos deu carona.
A paisagem em frente ao farol é bem bonita. Também há uma hospedagem ao lado, mas estava fechada.
Seguimos em direção ao Cabo Froward por uma trilha que transitava entre as praias e o bosque ao lado. Tudo muito bem demarcado e plano.
A única dificuldade foi caminhar pela praia, que é formada por pequenas pedras que afundam na pisada, como se fossem areia fofa. Tivemos sorte e o tempo ajudou com um céu azul, ensolarado e sem muito ventos.
Chegamos ao rio Yumbel, onde acampamos antes de cruzá-lo, em frente a um refúgio. Refúgio bem conservado e limpo.
No dia seguinte, descobrimos que também poderíamos ter acampado no outro lado do rio. Mas o rio estava tão baixo, que a melhor opção foi acampar perto do refúgio mesmo.
Seguem abaixo a elevação e o resumo do dia 2.
Resumo dia 2 | |
Total percorrido Tempo sem paradas Subida Descida Altitude máxima Dificuldade |
20 km 5 a 6 horas 498 metros 505 metros 44 metros Moderada |
dia 3: rio Yumbel – rio Nicolas – rio Nodales
Saímos por volta das 8h30min e cruzamos o rio Yumbel. O cruzamento foi bem tranquilo, a água chegou somente até as canelas. Nos falaram que este rio pode ficar cheio, até a cintura. Olhando, parecia improvável. Mas da mãe natureza, nada se pode duvidar.
Continuamos a jornada pela trilha, que continua entre praias e bosques. Fomos presenteados por mais um dia de Sol.
Importante ter cuidado em alguns trechos de praia, que têm muitas pedras grandes com algas escorregadias.
Passamos por um trecho grande e chato de 3 km, com muita lama e turbera; mas ainda assim belo.
Chegamos no rio Nicolas. É um rio mais profundo e é necessário consultar a tabela de marés, para evitá-lo na maré alta. Como saímos cedo de Yumbel, cruzamos esse rio exatamente no horário de maré baixa. A água chegou até um pouco acima dos joelhos.
Para não ficarmos com as roupas molhadas, tiramos as calças. Uma dica é levar Crocs para atravessar os rios, as pedras podem machucar. Foi a maior concentração de trekkers que vimos em todo o percurso, todos esperando a maré baixa para prosseguir a jornada. Todos atravessando sem as calças.
A trilha continua entre praias e bosques, até chegar no último rio, o rio Nodales. Cruzamos-o às 15h30min, três horas depois da maré baixa; e a água molhou toda a coxa da perna. Mais um pouco chegava no bumbum.
Às 17h50min vimos um casal tentando atravessar o rio e não conseguiu. Foram até quase a metade do rio e a água já estava molhando a mochila. Tiveram que ficar no outro lado. Há áreas de acampamento nos dois lados dos rios.
Bem em frente ao nosso acampamento, golfinhos passaram para dar um show. Pena que esses espetáculos não dão tempo para serem registrados em fotos.
Fomos dormir cedo porque no dia seguinte queríamos ir até o Cabo Froward, voltar, pegar nossas mochilas, cruzar o rio Nodales antes que a maré suba e acampar do outro lado do rio. Pelos nossos cálculos teríamos que cruzá-lo até às 15h30min.
Seguem abaixo a elevação e o resumo do dia 3.
Resumo dia 3 | |
Total percorrido Tempo sem paradas Subida Descida Altitude máxima Dificuldade |
15,7 km 5 a 6 horas 381 metros 371 metros 82 metros Moderada Pesada |
dia 4: rio Nodales – quase cabo Froward – rio Nodales
Arrumamos nossas mochilas, e a penduramos alto em uma árvore, para evitar que raposas roubem a comida. Isso aconteceu com uma mulher que conhecemos na trilha. Ela deixou a mochila com pães no recuo da barraca e foram atacar o cabo Froward. Quando voltaram a mochila estava fora da barraca sem os pães. E a raposa de barriga cheia…
Deixamos a mochila na árvore e seguimos nosso plano. Acordamos cedo e saímos às 7 horas, pois queríamos voltar a tempo de cruzar o rio antes da maré alta.
Foi uma boa ideia, vimos um belo nascer do Sol e logo em seguida um arco-íris.
O caminho é extremamente chato, praticamente todo na praia, se equilibrando em grandes pedras escorregadias. E para piorar uma chuva começou a nos acompanhar logo na primeira hora, deixando tudo molhado e ainda mais escorregadio.
A paisagem que estava abençoada no dia anterior, se tornou branca, indicando que a chuva não iria passar. E fazia muito frio, eu andava sem suar com camiseta, segunda pele, fleece grosso e corta-vento.
Trilha chata, paisagem branca, muito frio, com perigo de escorregar e se machucar. Decidimos voltar, faltando 5 km para o Cabo Froward.
Pelo menos a raposa não atacou nossas mochilas e conseguimos cruzar o rio Nodales a tempo, para acampar no outro lado.
Seguem abaixo a elevação e o resumo do dia 4.
Resumo dia 4 | |
Total percorrido Tempo sem paradas Subida Descida Altitude máxima Dificuldade |
10,4 km 5 a 6 horas 350 metros 381 metros 71 metros Moderada |
dia 5: rio Nodales – rio Nicolas – rio Yumbel
Retornamos pelo mesmo caminho que fizemos no dia 3.
Atravessamos o segundo rio, rio Nicolas, exatamente na hora de maré baixa; e dessa vez a água molhou toda a perna. O rio estava mais alto que no dia 3.
Dia nublado e com chuviscos, mas um pouco melhor que o dia anterior.
O rio Yumbel estava na mesma altura do segundo dia, molhando somente as canelas.
Devido ao intenso frio, nesta noite dormimos dentro do refúgio. Como tenho receio de insetos, montamos nossa barraca em um dos quartos e foi tudo bem.
Seguem abaixo a elevação e o resumo do dia 5.
Resumo dia 5 | |
Total percorrido Tempo sem paradas Subida Descida Altitude máxima Dificuldade |
15,2 km 5,5 a 6,5 horas 399 metros 342 metros 84 metros Moderada Pesada |
dia 6: rio Yumbel – leões marinhos – farol San Isidro – ponto de ônibus
Fizemos o mesmo percurso do dia 2, com um pequeno desvio.
Após 1 hora e 3 km de caminhada e, faltando 3,5 km do farol San Isidro, há uma ilhota com leões marinhos. O ponto de referência para ver esses animais são duas árvores bem tortas. Eles estão atrás destas árvores.
Uma rápida saída da trilha e ficamos bem próximos desta ilhota, apreciando os preguiçosos leões; ou lobos, não sei diferenciá-los.
Passamos pelo Farol novamente e chegamos na estrada. Estávamos ansiosos para conseguir uma carona, mas infelizmente não tivemos sorte. Caminhamos os 14 km de estrada de ripio até o ponto de ônibus. Chegamos um pouco cedo, fomos para debaixo da ponte, como dois mendigos, e preparamos uma refeição antes da chegada do ônibus.
Seguem abaixo a elevação e o resumo do dia 6.
Resumo dia 6 | |
Total percorrido Tempo sem paradas Subida Descida Altitude máxima Dificuldade |
20,3 km 5 a 6 horas 302 metros 371 metros 54 metros Moderada |
Custos
Seguem alguns custos em pesos chilenos (CLP).
- Aéreo de Puerto Williams (Isla Navarino) a Punta Arenas, individual: $CLP 69000,00
- Refeição simples em restaurante de Punta Arenas, individual: $CLP 4150,00
- Ônibus de Punta Arenas a San Juan, individual, ida e volta: $CLP 1800,00
- Hostal Independencia, diária casal, quarto privado, banheiro compartilhado, com café da manhã: $CLP 10000,00
Cotação em 25/02/2018:
$USD 1,00 = $BRL 3,24 = $CLP 590,00
Dicas
- Leve a tabela com os horários de maré atualizado, e a considere no planejamento de sua viagem.
- É possível atravessar os rios descalços, mas se tiver um Crocs, é mais confortável.
- Conseguimos atravessar o segundo e o terceiro rio, rio Nicolas e Nidolas, no mesmo dia. O tempo entre os dois rios é entre 2,5 e 3 horas. Leve isso em consideração no seu planejamento.
- Não deixe sua comida acessível no acampamento. Para evitar que as raposas a roubem, pendure-a alto nas árvores.
- Um olho na trilha e um olho no mar. Todos que cruzamos na trilha, falaram que viram golfinhos. Inclusive nós! Os mais sortudos podem avistar baleias.
- Vale lembrar que cada um tem que se auto-avaliar para entender se tem condições físicas, psicológicas e técnicas para se enfiar na natureza selvagem.
Dados sabáticos
1221 km trilhados 115 noites acampando 30 cidades 11 cumes 9 meses 4 países |
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Nós, Paula Yamamura e Ramon Quevedo, estamos curtindo uma vida sabática, focando no que mais gostamos de fazer: viajar trilhando.
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