América do Sul, Brasil, Maranhão

LENÇÓIS MARANHENSES – travessia em um lugar surpreendente e único no planeta

O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi criado em junho de 1981. Sua área é de 155 mil hectares, dos quais 90 mil são constituídos de dunas livres e lagoas interdunares, e abrange três municípios maranhenses, que dispõem de estrutura para recepção e condução de visitantes, Barreirinhas, Santo Amaro e Primeira Cruz.

O melhor período para visitá-lo e usufruir as lagoas é entre maio a agosto. Este é o período pós chuvas, onde as lagoas se encontram em seu nível de água máximo.

Antes de chegarmos nos Lençóis Maranhenses, achávamos que iríamos para um lugar bonito. Vimos belas dunas com lagoas em Tatajuba no Ceará, e pensamos que Lençóis seria algo parecido.

Parecido? Como é bom estarmos enganados! Não tem nada parecido com Lençóis. Como é bom nossas expectativas serem superadas! Como é bom nos surpreendemos com uma infinita beleza! Melhor ainda foi ficarmos imersos em uma travessia neste lugar único no planeta.

Como chegamos

De Barreirinhas fizemos um passeio pelo rio Preguiça que nos deixou em Atins. Outros meios de chegar em Atins seriam:

    • Lancha direto sem paradas: o dono do Hostal em Barreirinhas nos falou dessa opção, mas não encontramos alguém que estivesse fazendo este transporte. Como estava em alta temporada, acredito que todas as lanchas estavam focadas no lucro do passeio pelo rio Preguiça com paradas.
    • Carro 4×4: opção de R$ 30,00, a mais barata. Depois de conversar com uma local ficamos aliviados de não ter escolhido esta opção. Segundo relatos, são duas horas chacoalhando dentro do carro, com um monte de sacolas no chão, fazendo que seu joelho encoste no queixo. Este transporte é usado pelos locais para fazerem compras em Barreirinhas.

Em Atins nos “hospedamos” no Kite Point “Hostal” Atins. Consultamos o MapsMe e vimos que tinha boa pontuação. Não entendemos direito o critério da pontuação. Estava mais para um refúgio de montanha, uma casa pequena de madeira com somente um banheiro para dar conta de todos. E foi um dos campings mais caros de nossas vidas, R$ 35,00 por pessoa.

Resumo da travessia

      • País: Brasil
      • Cidades próximas: Barreirinhas e Santo Amaro (Maranhão)
      • Início: Atins
      • Fim: Santo Amaro
      • Distância total: 72 km
      • Duração: 6 dias, sendo 5 dias dentro do parque
      • Subida acumulada: 1379 metros
      • Descida acumulada: 1363 metros
      • Altitude máxima: 29 metros
      • Mapa da trilha: Wikiloc
      • Período do trekking: final de julho de 2018
      • Dificuldade: Moderada.

Roteiro

Fizemos a travessia em 5 noites e 6 dias, como segue:

Dia 1: Atins – Canto dos Atins

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
7,5 km
1h45min
112 metros
110 metros
9 metros
Leve

Neste dia fizemos uma caminhada de 7 km, saindo de Atins, onde ficamos após o passeio de lancha pelo rio Preguiça, até o Canto do Atins, onde começa os Lençóis Maranhenses.

Saímos de Atins no final do dia para não ter que enfrentar o calor. Antes, passamos pelo único mercado que aceita cartão de crédito. Mas parece que na prática a máquina do cartão nunca funciona. Então pagamos com dinheiro mesmo.

O caminho até o Canto de Atins é pela vila e está no MapsMe. Às 19 horas, quase chegando, um rapaz nos deu uma carona até o restaurante da Luzia. Além da Luzia também seria possível ficar no Sr Antônio ao lado.

Montamos nossa barraca, tomamos banho e dormimos. Há também quartos e redes para dormir. Todos com banheiro coletivo.

Era alta temporada e havia uma boa equipe trabalhando neste restaurante. Quase todas eram mulheres e eram muito simpáticas.

Acabamos ficando por lá mais uma noite. No dia seguinte fomos até a Lagoa das 7 Mulheres, que foi uma das primeiras lagoas que nos deparamos. É uma lagoa imensa e excelente para banho.

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Assistimos o pôr do Sol em uma duna próxima. Logo depois também teve o eclipse lunar total mais longo do século 21. Pena que ventava muito e mesmo com tripé a máquina balançou um pouco.

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Aproveitamos e comemos uma boa refeição no disputado restaurante. Na hora do almoço fica lotado. Saboreamos um delicioso camarão, o prato principal da casa, por R$ 40 cada um.

Não irei acrescentar este segundo dia no Canto do Atins aqui, pois é um extra desnecessário. Basta chegar no início da tarde, que é possível explorar seus arredores, dormir e seguir viagem no dia seguinte.

Veja este dia no vídeo do YouTube abaixo.

Dia 2: Canto dos Atins – algum lugar de Lençóis Maranhenses

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
7,5 km
2h10min
136 metros
137 metros
21 metros
Leve Moderada

Como não queríamos andar os 26 km até Baixa Grande de uma vez, saímos às 16 horas do Canto do Atins para adiantar a caminhada, acampando em algum lugar no meio do caminho.

A grande maioria dos turistas é levada por guias nesta travessia, dormem somente nas casas de moradores nos oásis, e no primeiro dia caminham boa parte do trajeto pela praia durante a madrugada. Nós fomos a exceção. Fomos sem guia, acampamos no meio do caminho e não caminhamos pela praia, que dizem estar cheia de entulhos trazidos pela maré.

Passamos pela lagoa das Sete Mulheres e estava com pelo menos 3 carros de turistas. De lá, eles aproveitam para ver o pôr do Sol na duna.

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Seguimos mais um pouco entre as dunas. O Sol começou a se despedir de nós e nuvens invadiram o céu. Foi uma infelicidade pois era lua cheia e fomos privados da iluminação lunar. Para piorar o contexto, vimos trovões ao longe, que foram se aproximando cada vez mais. Algumas gotas caíram sobre nós. Achando que era um aviso da mãe natureza, procuramos um lugar baixo para acampar. Não queria estar em cima de uma duna quando um raio surgisse.

Ainda montando a barraca, mais um raio surgiu no horizonte. Nos apressamos e… nada aconteceu. Os raios pararam. Mal andamos neste dia. Foi um pouco frustrante, mas ficamos por lá mesmo. Em frente de uma lagoa, entre dunas, em algum lugar no Parque Nacional Lençóis Maranhenses. Nada mal para uma noite “frustrante”.

Por volta das 22 horas olhei para fora da barraca e uma brecha no céu permitiu que a Lua cheia iluminasse tudo. Estava tão lindo.

Veja este dia no vídeo do YouTube abaixo.

Dia 3: algum lugar de Lençóis Maranhenses – Baixa Grande

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
18,5 km
5h40min
379 metros
372 metros
26 metros
Moderada

Para aproveitar a luminosidade da lua cheia, acordamos às 4h00. Mas não deu muito certo. Demoramos para tomar nosso café da manhã e desmontar a barraca. Começamos a caminhar às 5h30, já com a luz do Sol, que estava prestes a nascer.

Seguimos entre dunas e lagoas. Não vimos ninguém no caminho. Lençóis era todo nosso.

O curioso foi encontrar pedaços de isopor pelo percurso. No começo achei que provavelmente foi algum isopor, que quebrou no caminho de algum quadriciclo dirigido por um local. Muitos transportam comida e bebidas para abastecer os oásis. Mas conforme andávamos mais pedaços de isopor apareciam. Será que é marcação de trilha?

Estávamos em uma área onde não era mais permitido a circulação de veículos com turistas, somente moradores podem transitar motorizados.

Conforme Baixa Grande se aproximava, começamos a ver outras pessoas caminhando em nossa frente. Todos caminhavam para o mesmo destino.

A alguns metros do oásis passamos por um grupo de 12 franceses, que se banhava em uma linda lagoa. E ao passar pelo guia tive que ouvir: “Não pode andar aqui sem um guia credenciado!”. Mentalmente mandei aquele ser para um lugar muito especial. E disse: “É mesmo?! No site da ICMBIO não fala NADA sobre essa proibição.” Então ele mudou o tom: “Ahhh… Não fala nada?! Andar sem guia fica um pouco mais difícil, né?”. Dei um sorriso amarelo e seguimos.

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Logo vimos uma bandeirola indicando a entrada do oásis Baixa Grande. Bem perto da entrada fica a casa da Odete. Eram 11h00 e chegamos praticamente junto com os demais turistas guiados. Haviam uns 17 franceses e uns 10 brasileiros.

A Odete tem um esquema bom para atender os turistas. Às 12h30min estávamos todos almoçando. No cardápio: peixe, bode ou ovos. Escolhi peixe e vieram ovos. Comi os ovos de outra pessoa e estavam muito bons. Ramon almoçou e aprovou o bode.

Acampamos no quintal, enquanto que os demais usaram as redes para dormir.

Na maioria das lagoas que entramos, a água não ultrapassava a cintura. Tínhamos que ficar agachados para nos molhar. Mas bem perto da casa da Odete havia uma deliciosa exceção. Uma lagoa, onde alguns pontos, era profunda o suficiente para não conseguirmos encostar os pés no solo.

O legal da casa da Odete é que de um lado havia esta lagoa e do outro lado uma duna para ver o pôr do Sol. Tudo muito perto. Fizemos amizades com alguns brasileiros que encontramos e curtimos a lagoa e a duna.

Veja este dia no vídeo do YouTube abaixo.

Dia 4: Baixa Grande – Queimada dos Paulos

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
12,5 km
4h10min
260 metros
246 metros
17 metros
Leve Moderada

Esse foi o dia mais chato da travessia. Até que começou bem. Foi abrir a porta da casa da Odete e já estávamos de volta às dunas, lagoas e lindas paisagens.

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Mas o percurso era curto. A sensação foi que mal caminhamos e já nos deparamos com o próximo Oásis. Descemos para o oásis e outra sensação ruim, parecia que estávamos perdidos. Seguimos o GPS e andamos em um terreno barrento, com vegetação rasa e alagado.

Até que vimos algumas bandeirolas. O trajeto das bandeirolas não estava em nenhuma trilha que baixamos. Mas entendemos que era um sinal muito evidente que aquele era o caminho. E então a trilha fica alagada e nos deparamos em uma lagoa. Novamente a sensação de perdidos e de aborrecimento começa a predominar.

No vai-e-vem decidimos encarar a lagoa. Mais alguns passos e a trilha surge novamente. E assim fomos. Entre trilha e lagoas, até a trilha firmar e chegarmos nas primeiras casas do Oásis.

Paramos na primeira que vimos. Na casa da dona Binu. Conversando com os moradores, eles explicaram que o caminho que seguimos foi aberto no último verão, na época de seca e sem lagoas. Resumindo, não ficamos perdidos em nenhum momento. E caminhamos tanto naquele oásis entediante, que ultrapassamos e nem vimos a Queimada dos Britos, primeira vila onde os demais turistas ficaram. Estávamos na Queimada dos Paulo, que fica mais perto da saída e das lindas dunas.

O oásis é muito grande e muito chato. O tempo que gastamos andando por lá foi um tempo perdido. Chegamos à conclusão que o melhor seria ter desviado deste oásis e ter acampado em qualquer lugar nas dunas, em frente de uma lagoa com água cristalina.

Em falar em água, na casa da Binu, a bomba que leva a água ao banheiro estava quebrada. Havia duas opções para banho:

      • direto na lagoa que fica no quintal da casa, como fazem os moradores
      • ou puxar manualmente a água do poço e tomar banho de balde dentro do banheiro

Optamos pela segunda opção. Até aí, sem problema algum para nós. Mas o sabor e odor daquela água… Tanto da lagoa, como do poço que fica a 5 metros da lagoa e a 5 metros do banheiro, tinha um sabor horrível. Para beber usamos nosso filtro habitual e acrescentamos suco em pó. Era impossível beber a água pura. Digamos que tinha um sabor com um “leve toque” de peixe e fezes. Imagina a delícia…

Para compensar, a filha da dona Binu, a Ana Bela, foi extremamente simpática e atenciosa. Um doce de pessoa, super feliz por nos receber e conversar conosco. A sua mãe, também nos pareceu bem satisfeita em nos ver. Nota dez para as duas. A água vou deixar sem nota mesmo.

Assim como na casa da Odete, elas oferecem refeição e rede.

Veja este dia no vídeo do YouTube abaixo.

Dia 5: Queimada dos Paulos – algum lugar de Lençóis

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
16,5 km
5 horas
279 metros
282 metros
1 metro
Moderada

Esse foi o melhor dia em Lençóis. Decidimos sair assim que acordamos e caminhar pelas dunas todo o dia. Enfrentamos o Sol, e foi o dia que mais aproveitamos em nossa expedição pelo litoral nordestino em 2018.

As dunas e lagoas deste trecho eram maiores e o trajeto foi o mais bonito. Neste dia entramos em todas as lagoas que davam para banho.

Entre meio-dia e 3 horas da tarde, o Sol castigava, nem mesmo a frequente ventania conseguia nos refrescar. Somente um bom e demorado banho nas lagoas para sobreviver. Neste momento da viagem eu já entrava com roupa e tudo na água, por três motivos:

      • É muito mais prático, não ter que tirar a roupa e depois vestir novamente toda molhada, e tentando impedir que a areia grude no corpo semi-nu.
      • Minha roupa tinha proteção UV. Assim ficava protegida dentro da água.
      • Ficava mais fresquinha por “muito” mais tempo. Na verdade, nem era muito tempo, pois o vento e o Sol secavam minha roupa rapidinho.

Como fomos os últimos a sair de Baixa Grande, caminhamos quase todo o percurso sem ver uma alma viva. Só víamos as pegadas do pessoal, principalmente do grupo dos 12 franceses. O que era bom, para termos a certeza que estávamos no caminho certo.

Somente no final do dia, quando decidimos onde acampar, é que começamos a ver humanos. Humanos sentados em carros passando pelas dunas próximas. Teve um carro que até parou um pouco, provavelmente tirando foto da atração que ali estava, dois seres montando uma barraca entre duas lindas lagoas.

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A tela da barraca não consegue evitar a passagem de pequenos grãos de areia, ainda mais sob os fortes ventos nordestinos. Mas ainda bem que durante a noite, a ventania dá uma trégua. Somente uma leve brisa aparece de vez em quando, refrescando os Lençóis Maranhenses e proporcionando belos sonhos para quem se atreve a dormir por lá.

Veja este dia no vídeo do YouTube abaixo.

Dia 6: algum lugar de Lençóis – Santo Amaro

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
9,5 km
3h10min
214 metros
215 metros
29 metros
Leve Moderada

O último dia de nossa travessia foi curto. Continuamos nas dunas seguindo as indicações do GPS e chegamos na entrada da cidade de Santo Amaro.

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Não queríamos ir embora. Por mais que tentamos enrolar, uma hora teria que terminar. Confesso que meus últimos passos foram bem lentos. E de vez em quando até dava uns passinhos para trás.

Normalmente demora-se 3 dias para percorrer o que caminhamos em 5 dias. Na próxima vez, um dia voltaremos, vamos ficar andando em zigue-zague para a travessia durar uns 10 dias.

No final da travessia, tiramos nossa dúvida sobre o calçado ideal. Depois de muita areia entrar no tênis, elegemos como melhores calçados: pés descalços para o Ramon e somente meias para os meus pés delicados.

Veja este dia no vídeo do YouTube abaixo.

Observações

  • Se eu voltar para Lençóis, irei no mês de junho. As lagoas estarão mais alagadas e ainda podemos curtir o São João maranhense.
  • Nesta travessia fomos com nossas mochilas usuais, que são as mesmas que usamos para qualquer trilha de montanha de longa distância com pernoite acampando. Estávamos carregando elas desde a Chapada Diamantina. Mas o ideal seriam mochilas menores, e se não for acampar, menores ainda.

Custos

Seguem alguns custos em reais (BRL).

Refeição

      • Camarão , camarão, no Canto do Atins, individual: $BRL 40,00
      • Refeição nos oásis Baixa Grande e Queimada dos Paulos, individual: $BRL 35,00
      • Prato Feito em Santo Amaro, individual: $BRL 10,00
      • Cerveja nos oásis Queimada dos Paulos, lata: $BRL 5,00

Hospedagem

      • Camping Kite Point “Hostal”, em Atins, individual: $BRL 35,00
      • Camping na casa da Odete, em Baixa Grande, individual: $BRL 10,00
      • Pousada Bebetur em Santo Amaro, diária casal com café da manhã: $BRL 154,00

Transporte

      • Van de Santo Amaro até São Luís, individual: $BRL 60,00

Cotação em 26/06/2018:
$USD 1,00 = $BRL 3,76

Dados sabáticos

1869 km trilhados
162 noites acampando
54 cidades
4 países
1 ano e 2 meses

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4 comentários em “LENÇÓIS MARANHENSES – travessia em um lugar surpreendente e único no planeta”

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