América do Sul, Brasil, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo

SERRA FINA – uma das travessias mais difíceis do Brasil

A Serra Fina é um pedacinho da Serra da Mantiqueira, localizada entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A travessia de seus 28 km é considerada uma das mais difíceis no Brasil; basicamente por dois motivos:

  • Passa por 3 cumes de grandes montanhas, tornando o trajeto exaustivo com tanto sobe e desce.
  • São raros os pontos de água durante o percurso, obrigando que os caminhantes carreguem muita água, aumentando o peso na mochila.

Quem faz a travessia da Serra Fina está apto para fazer muitos trekkings pelo mundo afora.

Como chegamos

Saindo da rodoviária Tietê, em São Paulo, pegamos um ônibus até a cidade mineira Passa Quatro, pela viação Cometa. Foram 5 horas de viagem.

Ao chegar em Passa Quatro descobrimos que o táxi não sobe a montanha, até o início da trilha. Fomos socorridos pela Patrícia, que leva e traz os mochileiros em seu 4×4, por $BRL 250,00 (ida e volta).

Depois de 1 hora em estrada de terra, ela nos deixou, já no escuro, perto do começo da trilha, logo após o Refúgio Serra Fina, onde acampamos, ao lado de um riacho.

Resumo do trekking

  • País: Brasil
  • Cidades próximas: Passa Quatro e Itamonte (MG), Queluz (SP), Itatiaia (RJ)
  • Início: Refúgio Serra Fina, Passa Quatro
  • Fim: Fazenda Engenho da Serra, BR-354, Itamonte
  • Distância total: 28 km
  • Duração: 5 dias
  • Subida acumulada: 3321 metros
  • Descida acumulada: 3316 metros
  • Altitude máxima: 2798 metros
  • Mapa da trilha: Wikiloc
  • Previsão do tempo: Windguru
  • Período do trekking: início de maio de 2018
  • Dificuldade: Pesada. Não recomendada para iniciantes. Necessário muito bom condicionamento físico e experiência em montanhismo.

Roteiro

Normalmente essa travessia é realizada em 3 noites, sem contar a primeira noite no início da trilha. Desta vez a fizemos em 4 noites e 5 dias, como segue:

  1. Refúgio Serra Fina a Morro Cruzeiro
  2. Morro Cruzeiro a camping Dourado
  3. camping Dourado a vale do Ruah
  4. vale do Ruah a Pico dos 3 Estados
  5. Pico dos 3 Estados a Fazenda Engenho da Serra

Seguem mapa e elevação da travessia:

Serra Fina completo

dia 1: Refúgio Serra Fina – Morro do Cruzeiro

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
2,4 km
1,5 horas
608 metros
347 metros
2027 metros
Moderada

Segue a elevação do dia 1.

Serra Fina dia 1

Passamos por:

  • Toca do Lobo
  • Morro do Cruzeiro

Saímos próximo ao refúgio Serra Fina, onde a Patrícia nos deixou na noite anterior. Logo nos primeiros passos começamos a subir, indicando o que viria a seguir. Continuamos mais um pouco na estrada de terra até chegar no início da trilha, propriamente dita.

Passamos pela Toca do Lobo, onde nos abastecemos de água para até o dia seguinte. Como os pontos de água são raros no percurso, nos precavemos carregando 4 litros de água para cada um. Ficamos bem pesados, mas é melhor sobrar do que faltar.

Uma neblina começou a nos acompanhar timidamente. Continuamos subindo pela trilha, passando pelo morro do Cruzeiro.

Serra Fina

A neblina perdeu a vergonha e foi se intensificando, até começar a chover.

Como estávamos com comida e dia sobrando, decidimos acampar antes de chegar no camping morro Quartzito; faltando 25,5 km para o término da travessia. Fizemos bem, foram 3 horas sem trégua da chuva.

dia 2: morro do Cruzeiro – camping Dourado

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
5 km
5 horas
985 metros
466 metros
2493 metros
Moderada Pesada

Segue a elevação do dia 2.

Serra Fina dia 2

Passamos por:

  • camping Quartzito
  • Alto do Camping Amarelo
  • camping Capim Elefante
  • camping Avançado
  • camping Maracanã
  • camping Dourado

Continuamos na trilha e depois de 20 minutos, um poste indicava um ponto de água próximo. Descemos a trilha do poste e nos re-abastecemos de água. Por garantia, completamos todas nossas garrafas. Estávamos carregando 8 litros de água. Neste ponto um homem nos alcançou. Com uma mochila pequena, ele estava explorando a trilha para em um futuro próximo trazer a “molecada”.

Seguimos morro acima, atravessando um gigante capim, mais alto que nós, o capim elefante. Essa vegetação chata iria nos atrapalhar, quer dizer, acompanhar nos dias seguintes.

Muita pirambeira e chão escorregadio. Cordas e escadas de corda nos ajudaram nos trechos mais difíceis. Mas não evitaram um tombo aqui e outro ali. Faz parte.

Mais um homem nos alcançou, este estava com uma cargueira. Nos passou a todo vapor. Seu roteiro era dormir no rio antes da Pedra da Mina e voltar no dia seguinte.

Depois de 3 horas de caminhada chegamos no cume do Alto do Capim Amarelo (2493 metros de altitude). Infelizmente a neblina dominava boa parte da paisagem. Almoçamos, assinamos o livro do cume e seguimos.

SF - 180509 - 13 05 57

A descida do cume estava bem escorregadia e fomos bem devagar. Uma dica importante é levar uma luva, pois a todo momento as mãos são usadas como apoio, agarrávamos tudo que víamos entre nossos olhos e o chão.

Passamos por alguns locais de acampamento, entre eles um grande gramado chamado de Maracanã. Sem dúvidas o maior camping de toda a travessia. Mas sem água…

Depois de 5 horas de trilha acampamos em um lugar depois do camping Dourado. Era um lugar que o Ramon já conhecia, um pouco desviado da trilha, mas com água perto. Em maio havia um fio de água correndo, mais que suficiente para nos abastecer. No inverno, fica a dúvida se a água, neste ponto, seca.

Faltavam 21 km para o término da travessia da Serra Fina.

dia 3: camping Dourado – vale do Ruah

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
6,2 km
5h45min
788 metros
567 metros
2798 metros
Moderada Pesada

Segue a elevação do dia 3.

Serra Fina dia 3

Passamos por:

  • morro da Asa
  • Pedra da Mina

A geada na mata estava presente ao amanhecer, explicando o frio que passamos durante a noite.

Saímos em direção à Pedra da Mina, a quarta montanha mais alta do Brasil, com 2798 metros de altitude. Tivemos sorte, o Sol nos acompanhou o dia todo, espantando o frio da Mantiqueira.

Foi um dia sem suar a camisa. Saímos mais leves, com menos água. Hoje seria um dia de passarmos em dois pontos de água.

Subimos e descemos um morro com uma bela paisagem nos presenteando.

SF - 180510 - 12 59 05

Passamos pelo primeiro ponto de água, um rio, antes da última subida da Pedra da Mina. Tomamos um suco, nos re-abastecemos e seguimos.

Chegamos ao cume da Pedra da Mina.

SF - 180510 - 15 05 07

Há vários lugares para acampar, que ficam lotados nos finais de semana. Como era quarta-feira, o cume estava completamente vazio. E continuaria assim, pois decidimos não carregar muita água e seguir para o vale do Ruah, onde iríamos acampar.

SF - 180510 - 15 23 28

Perdemos um belo crepúsculo, mas até achei bom, pois o vento estava de vento em popa no cume.

Demoramos 1 hora para descer 1 km, do cume ao acampamento do vale do Ruah. Ritmo bem devagar como toda a travessia. No vale, os imensos capins voltaram e para piorar havia vários caminhos para nos confundir. E como desgraça pouca é bobagem, o chão estava todo alagado, molhando meus pés, na bota que um dia foi impermeável.

Enfim encontramos o camping a dois passos de um rio. Ficamos protegidos do vento, mas não do frio, que continuava firme e forte.

Para não dizer que não vimos vida animal na travessia, tivemos a infeliz visita de um rato, enquanto ainda jantávamos. Nheca…

dia 4: vale do Ruah – Pico dos 3 Estados

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
4,7 km
4h20min
555 metros
401 metros
2665 metros
Moderada Pesada

Segue a elevação do dia 4.

Serra Fina dia 4

Passamos por:

  • pico da Brecha
  • pico Cupim de Boi

Antes de iniciar a caminhada, avistamos de longe, um homem descendo a Pedra da Mina. Provavelmente teríamos companhia à noite.

Atravessamos o impiedoso capim do vale do Ruah, brigando bravamente com a vegetação para não nos perdemos nos infinitos caminhos que beiram o rio.

Ao sair do vale, a paisagem começa a fazer parte do dia. Fomos subindo sem trégua, deixando o vale e avistando a Pedra da Mina logo atrás. No nosso lado direito começamos a ver no horizonte, a cidade Queluz e a represa do Funil.

SF - 180511 - 11 49 30

À frente, o morro Cupim de Boi, por onde passamos pelo seu cume e fomos em direção ao Pico dos 3 Estados.

SF - 180511 - 12 14 53

Antes da última subida ao pico, descansamos em um vasto acampamento, cujo defeito era a falta de água. Entre o vale do Ruah e o Pico dos 3 Estados não há pontos de água. Foi um dia pesado com 4 litros de água nas costas de cada um.

Conforme nos aproximamos do cume as nuvens iam dominando o lugar. E enfim o homem que avistamos logo cedo nos alcançou para dividirmos o acampamento.

Muito vento e céu branco para finalizar o dia no Pico dos 3 Estados, a décima montanha mais alta do Brasil, com 2665 metros de altitude; onde acampamos, na divisa entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

dia 5: Pico dos 3 Estados – Fazenda Engenho da Serra

Total percorrido
Tempo sem paradas
Subida
Descida
Altitude máxima
Dificuldade
10 km
5h30min
385 metros
1535 metros
2663 metros
Moderada Pesada

Segue a elevação do dia 5.

Serra Fina dia 5

Passamos por:

  • pico Bandeirante
  • pico Alto dos Ivos

Infelizmente essa travessia não nos proporcionou nenhum pôr ou nascer do Sol no cume. No único cume onde acampamos, a nuvem dominou o lugar, como se fosse a casa da Família Adams. Dormimos e acordamos com um céu totalmente branco, sem nenhuma paisagem e com muito vento. Nos despedimos do colega que dividiu o pico dos 3 Estados conosco e fomos embora.

Descemos e passamos pelo pico Bandeirante e pelo pico Alto dos Ivos, sempre acompanhados pela paisagem branca. E logo fomos ultrapassados pelo montanhista, que ainda estava tomando café quando deixamos o Pico. Somos muito lentos ou ele é muito rápido?

No pico Alto dos Ivos trocamos mensagens com a Patrícia. Combinamos com ela que assim que chegássemos neste pico, iríamos avisá-la, para que ela se programasse para nos buscar na rodovia.

Continuamos descendo e as nuvens ficaram onde estavam, nas alturas. Aos poucos a bela Mantiqueira começou a surgir para salvar nosso dia.

DCIM101GOPRO

Conforme descíamos, entramos na floresta. Apesar de não termos mais paisagens, um belo corredor de bromélias nos alegravam.

Até que por fim, chegamos na fazenda Engenho da Serra. Como eles não permitem o acesso à carro, tivemos que andar 3 km em estrada de terra e pedra, até chegar na rodovia BR-354, onde a Patrícia nos aguardava, para nos levar de volta à Passa Quatro.

No caminho, ela nos contou algo interessante, há um projeto de manejo e sinalização da Transmantiqueira. A previsão é que em 2020 os montanhistas brasileiros sejam presenteados por travessias mais prazerosas na Mantiqueira.

Uma hora depois estávamos tomando banho em um hostal, e indo, limpinhos, para a rodoviária, e voltando de ônibus para São Paulo.

Dicas

  • Considere carregar água pensando na pior hipótese: deverá ter água suficiente para passar o dia e a noite.
  • Olhe a previsão do tempo antes de ir. Se chover, considere ficar em casa.
  • Use uma luva para proteger as mãos enquanto elas trabalham para garantir que você não irá cair na pirambeira da Serra da Mantiqueira.
  • Telefone da Patrícia (transfer em Passa Quatro): 35 9988-89368

Custos

Seguem alguns custos em reais (BRL).

  • Ônibus de São Paulo à Passa Quatro, individual: $BRL 69,20
  • Refeição na rodoviária Tietê, individual: $BRL 24,50
  • Resgate da cidade à montanha, ida e volta, até 4 pessoas: $BRL 250,00
  • Banho em hostal de Passa Quatro, individual: $BRL 15,00
  • Ônibus de Passa Quatro à São Paulo, individual: $BRL 67,20

Cotação oficial em 13/05/2018:
$USD 1,00 = $BRL 3,60

Dados sabáticos

1379 km trilhados
132 noites acampando
34 cidades
19 cumes
11 meses
4 países

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